A construção de um modelo de maturidade tem como objetivo avaliar o quão apta e experiente é uma organização para gerenciar determinado método ou prática. Uma vez definido o objeto da avaliação de maturidade, os modelos são construídos tomando como base seus pilares, ou seja, as características que
devem ser consideradas para mensurar o quão efetiva é a aplicação desta prática.
Modelos da maturidade vêm sendo adotados para promover melhores resultados a partir da melhor aplicação de técnicas de gestão, seja na esfera de processos, rotinas, projetos ou práticas associadas aos objetivos organizacionais. Visando a avaliação da evolução das práticas de gestão do conhecimento dentro das organizações, algumas propostas de avaliação de maturidade foram construídas para mensurar o engajamento das mesmas diante deste tema, evidenciando os esforços realizados para o estabelecimento de características de uma forte cultura do conhecimento.
De acordo com a avaliação realizada, os resultados permitem analisar lacunas relacionadas aos processos de gestão do conhecimento, possibilitando a definição de caminhos para elevar a maturidade geral, incluindo ações relacionadas a pessoas, processos e sistemas. Ou seja, o objetivo central é avaliar a competência organizacional na realização de atividades-chave relacionadas à gestão do conhecimento, direcionando os esforços em gestão do conhecimento para que possam se diferenciar no mercado (FONSECA, 2006).
Modelos de avaliação de maturidade em gestão do conhecimento
Diferentes modelos de avaliação de maturidade em gestão do conhecimento foram desenvolvidos considerando estratégias, cenários organizacionais e características específicas a serem avaliadas. Conforme veremos adiante, tais modelos devem ser escolhidos e ajustados, por exemplo, em diferentes níveis de aplicabilidade para organizações públicas e privadas, uma vez que estas possuem condições específicas de trabalho e gestão organizacional.
Método OKA:
Segundo Fonseca (2006), o Método OKA considera três elementos básicos: i) pessoas, ii) processos e iii) sistemas, sendo que cada elemento é constituído por suas próprias dimensões:
Pessoas: cultura e incentivos; identificação e criação do conhecimento; compartilhamento do conhecimento; comunidades de prática e equipes de conhecimento; conhecimento e aprendizagem. Processos: liderança e estratégia; fluxo de conhecimento; operacionalização do conhecimento; alinhamento; indicadores e monitoramento.
Sistemas: infraestrutura tecnológica da GC; infraestrutura de acesso ao conhecimento; gestão de conteúdo; infraestrutura do ambiente de GC.
Segundo Batista (2012) em sua análise quanto ao método OKA, são contemplados os processos de identificar, criar, obter, armazenar, compartilhar, disseminar e operacionalizar o conhecimento. Cabe ressaltar que as questões da versão mais recente deste instrumento foram elaboradas considerando a aplicação deste modelo de avaliação de maturidade no setor privado, sendo portanto necessário reavaliar e adequar o mesmo para possíveis aplicações no setor público.
Pesquisa da OCDE:
Segundo Batista (2012), a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) realizou em 2002 uma pesquisa que visava conhecer o desempenho das organizações públicas dos governos dos
países-membros desta organização em relação aos seguintes temas: i) desafios da economia do conhecimento; ii) GC como prioridade da alta administração; iii) implementação de práticas de GC; e iv) resultados das estratégias de GC. Três hipóteses foram testadas:
- Se implementar práticas de GC é uma das prioridades internas da alta administração das organizações;
- Se existem muitas práticas de GC sendo efetivamente implementadas nas organizações;
- Se há nas organizações uma percepção de que a implementação de práticas de GC está sendo bem-sucedida.
Diferentemente do Método OKA, a pesquisa da OCDE apresenta em seu modelo fatores considerados como críticos para o sucesso da implementação da gestão do conhecimento nas organizações públicas, destacando a preocupação com a promoção do compartilhamento do conhecimento com outras organizações também do setor público (como por exemplo: órgãos públicos federais, governos
locais, organizações internacionais, dentre outros).
Critérios da Metodologia MAKE:
“O objetivo da Metodologia do Prêmio MAKE é diagnosticar o grau de maturidade das organizações em GC e inovação” (BATISTA, 2012). De acordo com uma postagem do site da Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento (SBGC), este prêmio:
“(…) busca reconhecer organizações que gerem valor ao acionista, transformem o conhecimento tácito em explícito e utilizem o capital intelectual para desenvolvimento de produtos, serviços e melhores soluções.” (Pinheiro, 2020)
Segundo esta metodologia, utilizada pelo “The KNnow Network” (uma organização sem fins lucrativos) para realizar diversas premiações, são oito os critérios de excelência em gestão do conhecimento: i) cultura organizacional; ii) liderança; iii) inovação; iv) capital intelectual; v) compartilhamento; vi) aprendizagem; vii) utilização do “Customer Relationship Management” (CRM); e viii) retorno ao acionista.
Embora não se trate de fato de um modelo de implementação e avaliação de maturidade em gestão do conhecimento, a Metodologia do Prêmio MAKE identifica fatores críticos de sucesso e permite a orientação a processos de gestão do conhecimento que podem ser considerados em especial para a
aplicação na administração pública.
Modelo de Avaliação do Fórum Europeu em GC:
O objetivo do modelo de avaliação de gestão do conhecimento elaborado para o Fórum Europeu em Gestão do Conhecimento é diagnosticar o grau de maturidade das organizações européias nesta pauta (EUROPEAN KM FORUM, 2001), fundamentando-se nos seguintes aspectos: i) estratégias de GC; ii)
tópicos sociais e humanos de GC; iii) organização da GC; iv) processos de GC; v) tecnologias de GC; vi) liderança; vi) avaliação do desempenho de GC; e viii) implementação e business cases de GC.
Segundo a descrição do evento apresentada no CORDIS (2020):
“O Fórum Europeu de GC visa estabelecer e manter uma infra-estrutura de apoio bem coordenada e eficaz em toda a Europa, permitindo aos especialistas de GC coordenar as suas atividades de investigação e estabelecer redes, tanto a nível formal como informal. Diferentes abordagens de aplicação e implementação devem ser convergidas para abordagens e diretrizes padronizadas amplamente aceitas.” (CORDIS, 2020, tradução livre).
O modelo europeu, no entanto, parece não evidenciar nenhum tipo de viés quanto à sua aplicação em organizações públicas ou privadas, uma vez que tem como objetivo apresentar tendências e visões, bem como roteiros e diretrizes que possibilitem a agregação de práticas de aplicação e implementação de
gestão do conhecimento em diferentes tipos de empresas.
As literaturas consultadas corroboram com a importância da utilização de um modelo de maturidade em gestão do conhecimento para o estabelecimento de uma estratégia efetiva em cada cenário avaliado. Porém, o desafio da gestão do conhecimento não cessa no ato de mapear o conhecimento disponível e a
maturidade dos processos dedicados ao mesmo, mas segue adiante na definições de métodos, técnicas e ferramentas focados na gestão para a obtenção de melhores resultados.
Referências Bibliográficas:
BATISTA, Fábio Ferreira. Modelo de gestão do conhecimento para a administração pública brasileira: como implementar a gestão do conhecimento para produzir resultados em benefício do cidadão/Fábio
Ferreira Batista. Brasília: Ipea, 2012.
CORDIS. European Knowledge Management Forum, 2020. Disponível em: < https://cordis.europa.eu/project/id/IST-2000-26393 > Acessado em 13/09/2020.
EUROPEAN KM FORUM. KM assessment model and tool . 2002. Disponível em: < http://www.providersedge.com/docs/km_articles/KM_Assessment_Model_and_ Tool.pdf > Acessado em: 14/09/2020.
FONSECA, Ana Paula. Organizational knowledge assessment methodology. Washington, D.C.: World Bank Institute, 2006.
OECD. Survey of knowledge management practices in ministries/departments/agencies of central government . Paris, OECD, 2003 [Fontes: Documentos OECD: GOV/PUMA (2003) 17 mar. 2003; PUMA/HRM(2002) 23 jan. 2002; PUMA/HRM(2001) 8 jun. 2001].
PINHEIRO, Juliana. Modelos de GC: MAKE . Disponível em: < http://www.sbgc.org.br/blog/modelos-de-gc-make >. Acessado em: 13/09/2020.